Prefácio
Com uma capacidade indiscutível de falar sobre o complexo de
maneira simples, Herculano Pires enfrenta neste livro o desafio do tema que se
expressa no próprio título: a Concepção Existencial de Deus. Vai o autor
abordar o Absoluto, o Criador,na feliz tentativa de colocá-lo em termos
humanos, daquilo que existe, que é, e fugir, portanto, das abstrações incapazes
de lhe dar um rosto. “Deus – afirma ele – como Existente, que existe na nossa
realidade humana, pode ser tocado com os dedos e sentido,captado pelo nosso
sensório comum”. O desafio de Herculano,contudo, corre como um rio para o
perigoso e estreito campo do antropomorfismo, onde Deus foi confundido com a
imagem do homem e transformado, ele mesmo, em homem. Ao dar-lhe esse rosto
coerente com a filosofia espírita, o rosto do Existente, que pode ser
valorizado pelo trato da lógica, do bom senso, ao contrário de confundi-lo com
o ser finito fisicamente. Herculano vai torná-lo exatamente um pouco mais compreensível
aos sentidos humanos, aproximando-o mais do mundo terreno e daqueles que o
habitam, como nós. Eis, então, que “nãonecessitamos da percepção extra-sensorial
para captar sua existência”, porque podemos vê-lo na sua obra, com a visão elaborada
do poeta ou a visão prática do homem simples; a partir dos cálculos e
métodos do cientista ou depois das experiências cotidianas daqueles que, também
existentes, percebem, sem qualquer possibilidade de elaboração filosófica mais
apurada, um Existente a presidir a vida em todos os sentidos.Herculano, aqui,
como em tantos outros momentos de sua vida intelectual fecunda, ao mesmo tempo
em que combate o erro inominável das religiões, ou seja, essa dupla tentativa frustrante
de “apresentar Deus como enigma insolúvel e exigir que o amemos de todo o
coração e de todo o entendimento”,empreende o esforço de refletir sobre a
“concepção existencial de Deus, entendido este não mais como elaboração imaginária dos
homens deslumbrados pelo esplendor da Natureza, mas como necessidade lógica da compreensão do real”.
Tudo isto para alcançar uma síntese de
valorização da consciência humana ou, melhor dizendo, uma capacitação dessa
consciência para a própria visão de mundo que cada um constrói. E a
síntese de Herculano se expressa nessa conseqüência. “Ao homem-existente junta-se
necessariamente, e portanto de maneira inegável e indispensável, o Deus-Existente,
cuja imagem absoluta se reflete na pluralidade humana”. Deus existe assim como
o homem existe, mas trata-se de uma realidade que se objetiva pelas relações que
se estabelecem entre ambos em contextos maiores e menores. Assim como o senso
comum admite hoje, sem maiores complicações, que o homem não pode ser
compreendido fora do social, assim também Herculano vai demonstrar que este
mesmo homem “não pode ser explicado fora do contexto natural do Cosmo” sem os
limites e os universos que a mentalidade relativizada ainda lhe impõe.
Wilson Garcia
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