sábado, 20 de abril de 2013

"Uma Conversa sobre Deus"



 

Prefácio

Com uma capacidade indiscutível de falar sobre o complexo de maneira simples, Herculano Pires enfrenta neste livro o desafio do tema que se expressa no próprio título: a Concepção Existencial de Deus. Vai o autor abordar o Absoluto, o Criador,na feliz tentativa de colocá-lo em termos humanos, daquilo que existe, que é, e fugir, portanto, das abstrações incapazes de lhe dar um rosto. “Deus – afirma ele – como Existente, que existe na nossa realidade humana, pode ser tocado com os dedos e sentido,captado pelo nosso sensório comum”. O desafio de Herculano,contudo, corre como um rio para o perigoso e estreito campo do antropomorfismo, onde Deus foi confundido com a imagem do homem e transformado, ele mesmo, em homem. Ao dar-lhe esse rosto coerente com a filosofia espírita, o rosto do Existente, que pode ser valorizado pelo trato da lógica, do bom senso, ao contrário de confundi-lo com o ser finito fisicamente. Herculano vai torná-lo exatamente um pouco mais compreensível aos sentidos humanos, aproximando-o mais do mundo terreno e daqueles que o habitam, como nós. Eis, então, que “nãonecessitamos da percepção extra-sensorial para captar sua existência”, porque podemos vê-lo na sua obra, com a visão elaborada do poeta ou a visão prática do homem simples; a partir dos cálculos e métodos do cientista ou depois das experiências cotidianas daqueles que, também existentes, percebem, sem qualquer possibilidade de elaboração filosófica mais apurada, um Existente a presidir a vida em todos os sentidos.Herculano, aqui, como em tantos outros momentos de sua vida intelectual fecunda, ao mesmo tempo em que combate o erro inominável das religiões, ou seja, essa dupla tentativa frustrante de “apresentar Deus como enigma insolúvel e exigir que o amemos de todo o coração e de todo o entendimento”,empreende o esforço de refletir sobre a “concepção existencial de Deus, entendido este não mais como elaboração imaginária dos homens deslumbrados pelo esplendor da Natureza, mas como necessidade lógica  da compreensão do real”. 
 
Herculano Pires
Tudo isto para alcançar uma síntese de valorização da consciência humana ou, melhor dizendo, uma capacitação dessa consciência para a própria visão de mundo que cada um constrói. E a síntese de Herculano se expressa nessa conseqüência. “Ao homem-existente junta-se necessariamente, e portanto de maneira inegável e indispensável, o Deus-Existente, cuja imagem absoluta se reflete na pluralidade humana”. Deus existe assim como o homem existe, mas trata-se de uma realidade que se objetiva pelas relações que se estabelecem entre ambos em contextos maiores e menores. Assim como o senso comum admite hoje, sem maiores complicações, que o homem não pode ser compreendido fora do social, assim também Herculano vai demonstrar que este mesmo homem “não pode ser explicado fora do contexto natural do Cosmo” sem os limites e os universos que a mentalidade relativizada ainda lhe impõe.

Wilson Garcia

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