A literatura e o jornalismo empolgavam Herculano Pires, mas desde a adolescência alimentava ele, também, o sonho de ser professor. Assim, resolvido a prosseguir os estudos, mudou-se para Botucatu, cidade em franco progresso e onde havia escola normal. Instalou-se na pensão de uma tia, mas defrontou-se com duas dificuldades: o salário como repórter do "Correio de Botucatu" era pequeno e as horas livres para o estudo não se conciliavam com o horário da Escola Normal. Conseguiu, mesmo assim, fazer o curso preparatório. Pouco tempo ficou em Botucatu. Seguiu para a cidade de Sorocaba em busca de melhores condições de vida. Lá, os mesmos problemas o aguardavam. Ouviu, então, do proprietário de uma gráfica, onde trabalhava, esta frase ferina: "Só estuda quem pode."
A propósito das dificuldades financeiras que por toda a vida o perseguiram, diria Herculano Pires, mais tarde: "Tenho certeza de que fiz mal uso de dinheiro em outras vidas. Devo ter sido um perdulário!"
Em Sorocaba, deixou a gráfica e tornou-se repórter de dois jornais: "Correio de Sorocaba" e "Cruzeiro do Sul", mas as dificuldades materiais eram muitas e fizeram-no, dois anos depois, regressar a Cerqueira César. Antes passou curta temporada em São Paulo, onde nada conseguiu de definitivo.
Herculano Pires tinha vinte e um anos de idade. Não conseguira fazer o curso normal, mas um dia veria seu sonho tornar-se realidade: seria professor. Voltou, pois, a dirigir a Casa Ipiranga em Cerqueira César. A pequena gráfica e o jornalzinho "O Porvir" rendiam-lhe pouco dinheiro, mas a sobrevivência estava garantida. Nessa época já tinha contos publicados em "A Cigarra", "O Malho" e "A Revista da Semana", revistas do Rio de Janeiro com circulação nacional. Mais tarde, em 1º de março de 1936, haveria de transformar o jornal "O Porvir" em uma revista literária, crítica e noticiosa, mas de porte humilde. Chamar-se-ia "A Semana" e teria Elias Salomão Farah como secretário.
O trabalho na gráfica era exaustivo. O pai de Herculano Pires, austero, era um tanto duro no relacionamento com o filho, mas nas horas de folga, à noite, o jovem escritor deleitava-se lendo os romances de Mário Mariani, como A Casa do Homem e O Pobre Cristo; Eric Maria Remarque; Vargas Vila, o célebre escritor colombiano, além dos clássicos da literatura internacional. Eric Maria Remarque foi um dos seus ídolos literários. Herculano Pires admirava-lhe "o estilo simples, direto, natural, sua maneira de encarar a vida, seu humanismo antibélico e antimilitar, antiviolento em todos os sentidos." Mas, seu livro predileto foi Um Uomo Finito, de Papini. Leu-o várias vezes, o que põe em evidência sua maturidade intelectual, não obstante ainda jovem. Quando não lia, à noite, escrevia. Era comum o rapaz atravessar a madrugada escrevendo romances, novelas, poesias. Os originais se amontoavam nas gavetas: O Sonho das Vagas, Noites de Luar, Papéis Velhos, Léo, Quando o Outono Chegou, Destino, Poças d’Água, Sub tegmini fage, Cabo Velho, Piranha & Cia., Sursum Corda!... Com o decorrer do tempo novos manuscritos surgiram: Poesias, Penumbra, O Serenista, Canções de Amor e da Vida, Orações, Ritmos, Poemas,Atlântida, Cântico dos Cânticos, O Sentido da Vida, Sacrifício... Quase todos esses livros inéditos e outros que viria a escreve, Herculano Pires, mais tarde, destruiu. Tinha razão, pois, ao afirmar na velhice, sorrindo, que desde jovem sofria de "grafomania", escrevendo dia e noite... Bendita "grafomania" que enriqueceu a literatura espírita com tantas obras fundamentais e até geniais!
Cerqueira César, não obstante uma cidade pequenina e humilde, vez por outra recebia visita de personalidades famosas. O popular e querido poeta, escritor e folclorista Cornélio Pires, autor de vinte e cinco livros, entre os quais Musa Caipira, que mereceu elogios, inclusive de Humberto de Campos, esteve várias vezes em Cerqueira César. Realizava palestras no palco do cinema "Rio Branco" e em plena praça principal, onde o povo se aglomerava para aplaudi-lo. Era primo de Herculano Pires, em cuja casa se hospedava. Cornélio Pires tornou-se espírita e escreveu obras doutrinárias.
Desde a adolescência, temas filosóficos, inclusive de caráter religioso, interessaram a Herculano Pires. Nascido em família católica, permaneceu no catolicismo até aos quinze anos de idade. Depois veio a crise. O que o levou a converter-se ao Espiritismo? Em uma entrevista gravada pelo autor destas linhas revelou Herculano Pires:
"Foi o raciocínio que me levou ao Espiritismo. O desejo de compreender aquilo que a religião a que eu pertencia, a religião católica, nunca pôde me explicar. Essa necessidade me impelia, naturalmente, a procurar, a indagar. Nessas indagações eu passei por várias fases. Não passei diretamente do catolicismo para o Espiritismo. Antes, por influência de um primo de meu pai, Francisco Correa de Melo, residente em Santos, me tornei teosofista. Li várias obras de Teosofia, procurei aprofundar-me no estudo, encontrei ali muitas respostas que em vão havia buscado na religião da família. Depois desiludi-me, também, da Teosofia, porque esta me dava certas explicações que também me pareceram absurdas. Eu queria algo que fosse mais positivo, que estivesse mais em ligação com a possibilidade de provas concretas. E foi então, numa fase de incerteza, quando eu já estava aceitando, praticamente, o materialismo, que me caiu nas mãos O Livro dos Espíritos. E nesse livro eu encontrei, realmente, aquilo que procurava."
Em entrevista concedida a Everaldo Tibiriçá publicada em São Paulo no extinto "Jornal da Manhã" (edição de 17 de agosto de 1975), Herculano Pires acrescentou estes detalhes sobre sua conversão:
"Eu não queria saber do Espiritismo, que por minha formação considerava um amontoado de superstições. Um dia, meu saudoso amigo Dadício de Oliveira Baulet me desafiou a ler O Livro do Espíritos de Allan Kardec. A contragosto aceitei o desafio e o estou lendo e estudando até hoje. Tornei-me espírita pelo raciocínio. Isso ocorreu em 1936; eu tinha, então, 22 anos."
Foi a lógica indestrutível de O Livro dos Espíritos que converteu Herculano Pires, é verdade, mas por outro lado não nos esqueçamos que tivera ele na infância visões mediúnicas jamais esquecidas e que, ao reencarnar, trouxera no inconsciente grande parte do manancial de sabedoria contido na obra de Allan Kardec.
Essa primeira leitura de O Livro dos Espíritos teve a ação de um vendaval na alma do moço Herculano Pires. A obra lhe pareceu um marco na história da evolução da humanidade. Kardec derrubara as barreiras da morte e obtivera dos Espíritos a solução dos enigmas do destino. E, nessa noite memorável, ao constatar que o livro era constituído de mil e dezenove perguntas de Kardec, cujas respostas dos Espíritos, plenas de sabedoria, abarcavam as três grandes áreas do conhecimento – ciência, filosofia e religião – no silêncio de seu quarto Herculano Pires fez a seguinte reflexão (mais tarde ele poria estes pensamentos em letra de forma):
"Nunca houve um diálogo como este. Jamais um homem se debruçou, com toda a segurança do homem moderno, nas bordas do abismo do incognoscível, para interrogá-lo, ouvir as suas vozes misteriosas, contradizê-lo, discutir com ele, e afinal arrancar-lhe os mais íntimos segredos. E nunca, também, o abismo se mostrou tão dócil e até mesmo desejoso de se revelar ao homem em todos os seus aspectos."
E ao pensar que fora até aquele dia teosofista, Herculano Pires acariciou O Livro dos Espíritos... E refletiu:
"A Doutrina dos Espíritos aborda desde logo os mais altos problemas de filosofia que agitavam o século XIX e lançou em terreno firme as bases de uma nova interpretação e de uma nova concepção da vida e do mundo. Constitui mesmo, desde o início, uma poderosa reação a duas escolas que pareciam ameaçar o mundo com imediata conquista: o marxismo e o positivismo.
A teosofia apareceu dezoito anos após o Espiritismo, tentando negá-lo através de uma elaboração cultural elevada, mas muito mais ligada à tradição hinduísta do que ao espírito científico do nosso tempo. Só o Espiritismo, como queria Kardec, enquadra-se perfeitamente na orientação científica. Kardec logo nas primeiras páginas de O Livro dos Espíritos define os rumos seguros da Doutrina Espírita, a sua natureza e o seu papel no mundo moderno. O Espiritismo é uma doutrina que desloca o problema do espírito do terreno nebuloso do dogmatismo religioso, abrindo-lhe as perspectivas da análise e da investigação científicas e ao mesmo tempo renova a questão religiosa, oferecendo-lhe a possibilidade da fé racional.
Não dispondo de nenhum sistema litúrgico, não possuindo cerimoniais, sacramentos ou qualquer espécie de regras e simbolismos para o culto externo, o Espiritismo se firma apenas no coração e na consciência dos adeptos. Representa o Espiritismo, por isso mesmo, aquele momento anunciado por Jesus à Samaritana, quando lhe declarou: "A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o pai em espírito e verdade". Ser espírita, portanto, é viver o Espiritismo. É transformar os princípios doutrinários em norma viva de conduta, para todos os instantes de nossa curta existência na terra. É praticar, enfim, o Espiritismo, não apenas no recinto dos Centros ou no convívio dos confrades, mas em toda parte em que nos encontremos – na rua, no trabalho, no lar, na solidão dos próprios pensamentos."
Herculano Pires assim agiu no decorrer de sua vida. E no dia seguinte o jovem convertido adquiriu as demais obras de Allan Kardec.
Mas a assimilação total de todos os conceitos da Codificação Kardeciana só foi possível após anos de estudo sistemático.
A primeira palestra doutrinária que Herculano Pires assistiu foi realizada em Cerqueira César por João Leão Pitta – um português natural da Ilha da Madeira, nascido em 11 de abril de 1875, grande amigo de Cairbar Schutel e divulgador de sua obra, a quem Herculano mais tarde chamaria de "apóstolo do Espiritismo no Brasil". Leão Pitta pronunciou entre Minas Gerais e Rio Grande do Sul quatro mil conferências, segundo informações do jornal "O Clarim", da cidade de Matão, por ocasião de sua desencarnação meses antes do seu aniversário aos 82 anos de idade, no dia 11 de fevereiro de 1957. Era idoso quando Herculano Pires o conheceu. Forte amizade os uniria.
A figura de Leão Pitta lembrava a de um velho profeta bíblico. Herculano Pires assim o descreveu: "De longas barbas brancas, sobrancelhas bastas, olhos azuis, faces coradas, João Leão Pitta era uma figura irradiante de simpatia e de bondade."
E sobre sua oratória: "Orador fluente, sincero, ardendo de verdadeiro amor pela doutrina, Pitta sabia falar ao povo. Servia-se, a exemplo das parábolas evangélicas, de imagens da vida prática, para transmitir os mais elevados ensinamentos doutrinários".
E Herculano Pires, nessa mesma crônica publicada no "Diário de São Paulo" em 1958, acrescenta que era Pitta "um homem de temperamento impulsivo, que se domava a si mesmo, como costumava dizer, e não gostava de ser considerado nem queria passar como santo". E relata a propósito o seguinte episódio pitoresco: "Em Botucatu, num dia em que pronunciava uma palestra sobre a paciência, teve ligeiro atrito com outro grande e saudoso pregador da doutrina, José Mariano de Oliveira Lobo. Como este o acusasse de ter perdido a paciência, Pitta respondeu com muita graça: "Não te esqueças, meu amigo: se tu és lobo, eu ainda sou leão!"
E Pitta riu-se, provocando uma gargalhada geral. De outra feita, um pregador espírita novato procurou o velho João Pitta para consultá-lo sobre o que devia pregar. Pitta rangeu os dentes fortes de português da Madeira, seus olhos brilharam por baixo das pestanas brancas de Papai Noel e ele disse: "Não pregue nem faça discursos. Ensine o que souber, depois de haver lido e estudado Kardec. Fiz milhares de pregações e me arrependo de meus entusiasmos. Na verdade, conversando depois com os ouvintes que me elogiavam, tive a surpresa de verificar que de todos os meus falatórios, só uma pessoa havia aprendido alguma coisa: eu mesmo, que aprendi a conter a língua."
E Herculano Pires, que assistira outra palestra de Leão Pitta na cidade de Marília, relata mais este apólogo real:
João Leão Pitta, falando sobre a dignidade humana, no Centro Luz e Verdade, de Marília, disse: "O homem ruim é a pior coisa que existe no mundo. É pior que o pior dos animais. Um boi ruim, arrombador de cercas, que vive chifrando os outros bois, o dono o mata e aproveita tudo o que o seu corpo oferece; o couro, a carne, os ossos, os chifres e até mesmo os cascos. Mas de um homem ruim nada se aproveita. Morto, tem que ser enterrado às pressas para não empestear a casa com o seu mau cheiro."
Ao mesmo tempo em que se aprofundava no estudo de O Livro dos Espíritos, passou Herculano Pires a assistir sessões mediúnicas em casa de seu amigo Dadício de Oliveira Baulet. Ciro Milton de Abreu, humilde funcionário na estação ferroviária de Cerqueira César, era o médium principal. Ciro era dotado de faculdades excepcionais no campo da ectoplasmia, dos fenômenos de transporte de objetos sem contato, de levitação e reprodução de efeitos luminosos e de fogo.
O Espírito que produzia tais prodígios se chamava Fragoso. Herculano Pires presenciou nessas sessões imensa quantidade de fenômenos. Deixemos que ele próprio relate:
"Logo a seguir Fragoso pediu que apagassem a luz da sala. Não se fez escuridão completa, porque a casa era de telha vã e a iluminação da rua e a de uma sala vizinha, da própria casa, penetravam indiretamente no ambiente. Ouviu-se um estalo no canto direito da sala e todos se voltaram para lá. Foi uma fração de segundo. Quando todos voltaram a olhar para o médium ele havia desaparecido. Suspenderam os trabalhos e chamaram por Ciro. Ele não respondia. Deram buscas na casa e foram encontrar o médium preso num guarda-roupa do quarto de dormir do casal, estando o móvel fechado a chave por fora, com a chave na fechadura."
E Herculano Pires nos fornece estes detalhes não menos impressionantes:
"Emanação de ectoplasma em forma fluídica, formando nevoeiro espesso na sala, com a produção de relâmpagos e luminosidades, e a produção de chamas isoladas, até mesmo na calçada da rua, pequenas chamas flutuantes e verdes como fogo-fátuo, foram verificados ali."
Em 1936 Herculano Pires foi eleito presidente do primeiro centro espírita que dois amigos seus fundaram na cidadezinha de Cerqueira César: Ciro Milton de Abreu e Dadício de Oliveira Baulet, este último, também, médium. A vidência que Herculano Pires tivera na infância desaparecera quase definitivamente. A nova instituição ganhara o nome de Humberto de Campos porque o famoso escritor maranhense vinha manifestando-se através da mediunidade psicográfica de Chico Xavier. Um detalhe importante: Chico Xavier contava tão-somente 26 anos de idade e Herculano Pires 22 incompletos. Um dia se tornariam grandes amigos.
Foi exatamente em 1936 que Herculano Pires pronunciou sua primeira conferência doutrinária. O fato se deu por ocasião de uma concentração espírita na cidade de Ipauçu, no interior do Estado de São Paulo. Assim que terminou o discurso viu aproximar-se de si, entre outras pessoas, o conhecido e estimado Pedro Ammar, defensor da pureza doutrinária. Pedro Ammar era um sírio de meia-idade, espírita desde os quinze anos. Abraçou Herculano Pires, dizendo estas palavras:
– Você é inteligente, menino! Gostei de sua palestra, mas ela teve muito de Teosofia... Você precisa aprofundar-se mais na Doutrina Espírita...
O bom Pedro Ammar, que o autor destas linhas teve a satisfação de conhecer anos depois, na residência de Herculano Pires, era uma figura popular em Ipauçu. Sua história era conhecida dos confrades mais velhos. O pai deu-lhe uma quantia em dinheiro e mandou-o viver em outro lugar, pois não desejava ter um filho espírita em casa. Pedro Ammar pegou o dinheiro e saiu. E semanas depois montou no centro da cidade um pequeno estabelecimento comercial – uma loja de miudezas, a que deu o nome de "Casa Espírita". A loja distava dois quarteirões apenas da residência de seu pai. Ammar, atrás do balcão, vendia de tudo, inclusive livros espíritas – menos o que pudesse servir ao ritual católico: velas, fita azul (muito procurada pelas filhas de Maria) e filó, tecidos com que as senhoras cobriam a cabeça nas procissões e na igreja...
O conselho de Pedro Ammar foi providencial. Herculano Pires aprofundou-se no estudo da Doutrina Espírita. Era tal sua intimidade com os livros da Codificação que se tornou, no dizer correto de Chico Xavier, o mais profundo conhecedor da Doutrina Espírita.
A missão de Herculano Pires estava sendo, pouco a pouco, delineada pela Espiritualidade Superior. Moço, já era presidente de um centro espírita; participava, semanalmente, de sessões mediúnicas, cujos fenômenos não deixavam dúvida sobre sua legitimidade; ditava conferências doutrinárias em inúmeras cidades. Agora fazia-se necessário escrever também na imprensa espírita para desempenhar, mais tarde, outras tarefas que exigiriam muito mais de si, dentro e mesmo fora do movimento doutrinário – tarefas que, no entanto, teriam a Doutrina Espírita por base. Dotado de uma vocação poderosa para o jornalismo e literatura, redigiu um artigo analisando o último livro do célebre escritor Paulo Setúbal, em cujas páginas é descrito, magistralmente, mas com humildade, seu encontro com Jesus. Confiteor é uma autobiografia comovente e inacabada porque sete meses após o início de sua redação Setúbal, já tuberculoso, faleceu. O artigo de Herculano Pires tinha por título "Confiteor, um livro doloroso" e foi escrito em 1938, alguns meses depois do passamento de Paulo Setúbal. Onde publicá-lo? A "Revista Internacional do Espiritismo" e o jornal "O Clarim", ambos da cidade de Matão sob a orientação superior de Cairbar Schutel, eram nessa época os veículos principais da imprensa espírita paulista, o que vale dizer, do Brasil. E para lá remeteu Herculano Pires seu artigo. Cairbar Schutel, que pela sua enorme folha de serviços já era considerado apóstolo do Espiritismo, pegou o envelope e olhou o nome do remetente. Era-lhe totalmente desconhecido. E leu o artigo, sem dúvida, com muito interesse porque ainda ecoava entre o povo o impacto da desencarnação de Paulo Setúbal, consagrado autor de romances históricos de grande êxito como A Marquesa de Santos, que mereceu tradução para o russo, o inglês, francês, árabe e o dialeto croata. Schutel não teve dúvida: incluiu o artigo de Herculano Pires entre os originais a serem publicados na próxima edição da "Revista Internacional de Espiritismo", ou seja, em fevereiro de 1938. Mas, não chegou a ver esse número da revista editado: Schutel desencarnou uma ou duas semanas antes. Fato assaz significativo: dias depois da desencarnação do insigne jornalista de Matão, sua bela revista apresentava aos leitores o jovem estreante Herculano Pires, o qual viria a ser um dos mais lídimos representantes do jornalismo profissional brasileiro e, a exemplo do próprio Schutel, um denodado e brilhante defensor dos postulados espíritas! Quase diríamos que houve nesse gesto derradeiro de Schutel uma sutil intenção premonitória que passou despercebida pelos seus biógrafos.
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