sábado, 12 de outubro de 2013

Reportagens do alem túmulo


 

DO NOTICIARISTA DESENCARNADO 



A sepultura não é a porta do céu, nem a passagem para o inferno. É o bangalô subterrâneo 
das células cansadas - silencioso depósito do vestuário apodrecido. 

O homem não encontrará na morte mais do que vida e, no misterioso umbral, a grande 
surpresa é o encontro si mesmo. 

Falar, pois, de homens e de espíritos, como se fossem expoentes de duas raças 
antagônicas, vale por falsa concepção das realidades eternas. As criaturas terrenas são, 
igualmente, Espíritos revestidos de expressões peculiares ao planeta. Eis a verdade que o 
Cristianismo restaurado difundirá nos círculos da cultura religiosa. 

Quanta gente aguarda a grande transição para regenerar costumes e renovar pensamentos? 

Entretanto, adiar a realização do bem é, sempre, menosprezar patrimônios divinos, 
agravando dificuldades futuras. 

O deslumbramento que invadiu as zonas de intercâmbio, entre as esferas visível e invisível, 
operou singulares atitudes nos aprendizes novos. 

Em círculos diversos, companheiros nossos, pelo simples fato de haverem transposto os 
umbrais do sepulcro, são convertidos, pelos que ficaram na Terra, em oráculos 
supostamente infalíveis; alguns amigos, porque encontraram benfeitores na zona espiritual, 
esquecem os serviços que lhes competem no esforço comum; médiuns necessitados de 
esclarecimentos são transformados em semi-deuses. 

A alegria da imortalidade embriagou a muitos estudiosos imprevidentes. Dorme-se ao longo 
de trabalhas valiosos e urgentes, à espera de mundos celestiais, como se o orbe terrestre 
não integrasse a paisagem do Infinito. 

É necessário, portanto, recordar que a existência humana é oportunidade preciosa no 
aprendizado para a vida eterna. Ensina-se-nos, aqui, que Espíritos protetores e perturbados, 
nobres e mesquinhos, podem ser encontrados nos planos visíveis e invisíveis. Cada criatura 
humana tem a sua cota de deveres e direitos, de compromissos e possibilidades. Zonas 
felizes e desventuradas permanecem nas consciências, na multiplicidade de posições 
mentais dos Espíritos eternos. Tanto na Terra como no Céu, a responsabilidade é lei. 

Neste quadro de observações, o Consolador é a escola divina destinada ao levantamento 
das almas. Urge, pois, que os discípulos se despreocupem do Espiritismo dos mortos, para 
colocar acima de todas as demonstrações verbalistas o Espiritismo dos vivos na eternidade. 

Dentro de cada aprendiz há um mundo a desbravar.  4

A Terra é também a grande universidade. Ninguém despreze a luta, o sofrimento, a 
dificuldade, o testemunho próprio. A luz, o bem, a sabedoria e o amor, a compreensão e a 
fraternidade, o cérebro esclarecido e as mãos generosas dependem do esforço pessoal, 
antes de tudo. 

O Sol ilumina o mundo, a chuva fecunda ti terra, a árvore frutifica, as águas suavizam a 
aridez do deserto; mas o homem deve caminhar por si mesmo. As maravilhas e dádivas da 
Natureza superior não eximem a criatura da obrigação de seguir com o Cristo, para Deus. 

Quando tantos companheiros dormem esquecendo o serviço, ou contendem por ninharias 
copiando impulsos infantis, trago-te, leitor amigo, estas reportagens despretensiosas - 
lembrança humilde de humilde noticiarista desencarnado. 

As experiências relacionadas, nestas páginas singelas, falam eloqüentemente de nossas 
necessidades individuais. Não devemos continuar na condição de meros beneficiários da 
Casa de Deus, reincidentes nas dívidas e falhas criminosas. A Providência nos oferece 
tesouros imperecíveis. O Pai repartiu a herança com magnanimidade e justiça. Não há filhos 
esquecidos e todos somos seus filhos. 

Trazendo-te, pois, meu esforço desvalioso, feito de coração para corações, termino 
afirmando que todas estas reportagens são reais e que, se os nomes das personagens 
obedecem à convenção da caridade fraternal, aqui não há ficções nem coincidências. Cada 
história representa um caso individual, no imenso arquivo das experiências humanas, para 
compreensão da vida eterna. 



Pedro Leopoldo, 8 de dezembro de 1942. 

Humberto de Campos 

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