segunda-feira, 8 de abril de 2013

"Carlos Mirabelli por Marcos Paulo Garcia"





A biografia abaixo é um resumo do excelente site http://members.tripod.com/~Mirabelli/ de Philippe Piet van Putten. Este resumo tem o objetivo de apresentar o contexto histórico do artigo de jornal transcrito logo na seqüência. O artigo publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 18 de maio de 1916 foi localizado em pesquisa no Arquivo do Estado de São Paulo em busca de referências ao Espiritismo na imprensa paulistana.
Biografia de Carlos Mirabelli
Carmine Mirabelli nasceu em Botucatú, São Paulo, Brasil, em 2 de Janeiro de 1889. Foi o primeiro filho do casamento do pastor protestante italiano Luigi Mirabelli com Christina Scaccioto Mirabelli. Teve uma irmã, Tereza Mirabelli Eugenio (1891 – 1971).
Perdeu sua mãe muito cedo e se acredita que isto tenha ajudado a desenvolver sua sensibilidade parapsicológica. Em 22 de fevereiro de 1914, logo após a morte de seu pai, e uma completa ruína financeira, Mirabelli ficou doente e uma extraordinária paranormalidade floresceu. Costumava dizer que seu falecido pai era sua “Estrela Guia” espiritual. Não era espírita (uma forma de espiritualismo), mas alegava poder ver os espíritos dos pais, de um tio, de sua sogra e de uma filha.
Mirabelli estudou no Grupo Escolar Cardoso de Almeida, em Botucatú, no Colégio São Luiz, em Itú (SP) e no Colégio Cristovam Colombo, em São Paulo (SP), mas logo deixou a escola. Certa vez, o menino impressionou muito seus professores e colegas ao falar sobre o tema “Evolução e Involução” em puro latim, porém sem conhecer o idioma.
Em 1916, os jornais de São Paulo disseminaram os estranhos feitos do “Homem Misterioso”, também conhecido como Carlos ou Carlo Mirabelli. Em 1914 ele trabalhava para a Companhia de Calçados Villaça quando foi apanhado de surpresa por bizarros fenômenos, semelhantes ao que conhecemos hoje como “poltergeists”. Apenas quando estava presente, os sapatos freqüentemente eram vistos saltando das prateleiras por si mesmos ou se movendo como se fossem animados. Mirabelli não compreendia porque isso acontecia, mas muitos clientes horrorizados atribuíam os fenômenos ao Diabo. Mirabelli foi considerado pelas pessoas como possuído pelo demônio e apanhou nas ruas. Sua casa foi apedrejada por fanáticos religiosos.
Ficou internado por 19 dias no Manicômio do Juqueri, sendo constatado pelos Drs. Francisco Franco da Rocha e Felipe Aché que tinha uma “energia nervosa” acima do normal. Com a ajuda de ilustres pesquisadores dos fenômenos psíquicos, como o famoso médico Dr. Alberto de Melo Seabra, Mirabelli se conscientizou da importância de seus raríssimos dons psíquicos e decidiu se submeter a sessões espíritas experimentais.


Diz-se que Carmine Mirabelli podia gerar uma imensa variedade de fenômenos; Acredita-se que muitos dos seus fenômenos resultavam de suas próprias forças psíquicas, sem o envolvimento de entidades espirituais. Mas é sabido que também conhecia alguns ingênuos truques de prestidigitação.
Mirabelli e sua família foram várias vezes vitimados pelos fenômenos. Objetos voavam ao redor e os atingiram em muitas ocasiões. O médium não controlava os fenômenos mas quando ficou mais velho conseguia refrear o fluxo de suas energias psicobiofísicas, reduzindo os riscos.
Mirabelli teve quatro casamentos. Do primeiro com a Sra. Carmem Guerreiro, teve dois filhos, Diva Cristina Mirabelli e Luiz Mirabelli. Do segundo, com a Sra. Edméa de Paiva Magalhães, não teve filhos. Do terceiro, com a Sra. Maria do Carmo Pinto Pacca, nasceu Regene Pacca Mirabelli e do último, com a Prof. Amélia Loureiro, veio à vida César Augusto Mirabelli.
Mirabelli tinha diabete. Apreciava a natureza e gostava de fumar charutos e cachimbos.
O médium foi preso várias vezes acusado de exercício ilegal da medicina, furto e também por perseguições políticas, mas mesmo na cadeia fascinava as pessoas com seus incríveis fenômenos e com sua generosidade. Era muito eloqüente e comunicativo.
Por certa fase de sua vida Mirabelli chegou a cobrar por seus serviços mediúnicos, desagradando os espíritas.
Por muitos anos, o médium só conseguia dormir em quartos iluminados. Temia a ocorrência de fenômenos desagradáveis enquanto dormia.
Ao contrário do que muitos imaginam, Mirabelli não perdeu seus estranhos dons ao ficar velho e doente. Existem relatos de que os fenômenos foram observados até 1950, poucos meses antes de sua morte.
Na segunda-feira, 30 de abril de 1951, Carmine e seu filho César Augusto tinham saído de casa, que ficava em São Paulo, SP, à Rua Antonio Lourenço 106. O médium resolveu atravessar a Av. Nova Cantareira para comprar leite, enquanto o menino ficou conversando com um engraxate. Subitamente “um Ford preto 1938” segundo as recordações de César, surgiu de uma esquina e atropelou o pai, colocando-o num permanente estado de coma. Segundo o atestado de óbito, assinado pelo Dr. Souza Lima e registrado no Cartório Jardim Paulista, Mirabelli teve fratura no crânio e faleceu no Hospital das Clínicas de São Paulo.
O corpo de Carmine Mirabelli foi sepultado na tarde de 1º de maio de 1951 na humilde campa 155, da quadra 27, no Cemitério São Paulo.
Médium ou Prestimano ?
Jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO", 18 de maio de 1916
Ultimamente os jornais tem-se ocupado muito dos fenômenos espíritas. É natural a despeito de se tratar de coisas espantosas. Um aspecto novo parece querer obrigar a humanidade a convencer-se de sua condição frágil e da eterna verdade de que os sábios trocariam com muito prazer o que sabem, por tudo aquilo que ignoram.
Nem todos os enigmas da vida, é claro, conservam até o fim o seu profundo mistério. Alguns, porém, não conseguem ser explicados pelas próprias pessoas que os consubstanciam.
O Sr. Carlos Mirabelli, que se acha em São Paulo há algumas semanas, é objeto de estudo de alguns apaixonados das ciências ocultas.
O Sr. Carlos Mirabelli é um homenzinho de barba romântica, olho aceso e face emaciada, Vimo-lo uma noite, numa residência particular no meio de um auditório cheio de silêncio e de ânsia, que aguardava o momento bendito em que iam chegar as correntes fluídicas.
Quando entramos, olhou-nos e a nosso companheiro com uma expressão de enfado. Quinze minutos depois pedia ao dono da casa que nos levasse para outra sala, visto como o nosso cepticismo, estava sendo um obstáculo à manifestações dos fluidos vitaes. Saímos e fomos nos juntar a um grupo de pessoas que estavam num largo aposento, onde o médium devia exibir as forças magnéticas de que se diz dotado.
Afinal, esta noite o Sr. Mirabelli não fez mais do que os que fizeram seus convidados. As vezes levantava-se, agitava o fraque curto, enfiava os longos dedos pela farta cabeleira, olhava para nós meio que desconfiado e acabava dizendo:
"- A coisa não quer vir mesmo ..."
Não obstante o negativismo de alguns, pessoas entre as que formavam o auditório, afirmaram-nos que o médium era uma criatura excepcional tendo realizado na sua presença coisas espantosas. O fato de não poder naquela noite operar uma reprodução era comum.
Quando os sentimentos de simpatia não se irmanam os fenômenos deixam de produzir-se. Isto nos veio convencer de que todos os presentes estavam com a pulga atrás da orelha. ...
Depois desta noite o Sr. Mirabelli parece ter-se reabilitado perante alguns daqueles cavalheiros que tanto desejavam assistir ao desenvolvimento dessas forças ocultas. Fez, ao que dizem, descer vários copos que havia em cima de uma mesa, vindo os mesmos parar no assoalho com lentidão e leveza. Com um olhar fez despencar uma ruma de papéis, mover um lápis dentro de um copo, caminhar por seus próprios pés algumas cadeiras.
Isto espalhou-se logo pela cidade e nestas três últimas semanas as façanhas do Sr. Mirabelli são a questão magna, o assunto de todas as conversações.
Todavia, nem todos acreditam nas maravilhas do Sr. Mirabelli.
Vamos ver o que o homem faz diante desse desafio, que chega até a formidável acusação de terem nossos colegas "encontrado um dos instrumentos com que logrou ele gozar de prestígio".
Que instrumento seria esse ?
(não há indicação do autor do artigo)

ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CÓD. 01.02.038 - O Estado de São Paulo - 1916
 (Publicado no Boletim GEAE Número 474 de 27 de abril de 2004)

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